O que queremos? Inovação disruptiva que gere retorno
Os conceitos de tecnologia disruptiva e inovação disruptiva, que se espalham como vírus benignos no universo do empreendedorismo, foram cunhados pelo professor Clayton M. Christensen, da Harvard Business School, em duas obras que ficaram famosas – o artigo "Disruptive Technologies: Catching the Wave", de 1995, e o livro "The Innovator’s Solution", de 2003. Christensen, com seus 2 metros de altura, poderia ter tentado uma carreira no basquete, mas preferiu se dedicar ao estudo dos fatos econômicos e a entender por que alguns negócios têm mais sucesso do que outros. O fato é que a palavra "disruptiva" parece dotada de poderes mágicos, capazes de assegurar, de antemão, charme e sucesso a um empreendimento.
Talvez o hábito de olhar de cima o mundo ao redor tenha ajudado Christensen a enxergar longe. Isso é só uma piada tola, mas é uma coincidência curiosa que uma das primeiras conclusões de Christensen sobre o que leva empresas bem-sucedidas a sucumbir à emergência de novas tecnologias e novos mercados é que elas olham muito de perto os seus clientes. Fazem isso com tanta competência que se esquecem de olhar o entorno, tornam-se reféns de uma realidade dominante, não estão treinadas para identificar as tendências que estão brotando nos nichos do mercado. Caso clássico é o da IBM, que produzia mainframes para grandes consumidores como governos e corporações e não conseguiu ver utilidade em desenvolver computadores menores.
As ideias de Christensen sacudiram a visão e os modelos de negócio mesmo de empresas que estavam preocupadas, à sua maneira, com a inovação. Inventores, cientistas, empreendedores se puseram a exercitar a capacidade de fazer releituras de produtos, de materiais, de necessidades de consumo em busca de novas tecnologias como um passaporte para o sucesso. A multiplicidade de histórias proporcionadas pelo crescimento da nova economia, com o surgimento de megaempresas como o Facebook a partir de ideias tão simples como a de criar um quadro de recados digital, só fizeram reforçar a mística da inovação disruptiva.
Novos produtos, novos usos para velhos produtos, inovações tecnológicas são um ingrediente importante para o sucesso de um empreendimento. Mas, para transformar o novo em um bom negócio, é preciso que a novidade atenda a certos requisitos.
· Aplicação no mundo real: em primeiro lugar, é preciso que a tecnologia seja aplicável no mundo real. Essa nem sempre é a preocupação do cientista ou do inventor. Por isso, muitas vezes é fundamental o papel desempenhado por um especialista em marketing, que é quem pode ajudar a transformar a nova tecnologia em produto ou serviço; ou descobrir onde estão os consumidores que ainda nem sabem que precisam daquela tecnologia; ou indicar os ajustes para que esses consumidores se disponham a experimentar o novo.
· Perigo de replicação: é importante avaliar se a novidade pode ou não ser copiada com facilidade. Se o custo de replicá-la for muito baixo, o negócio não tem futuro, morre antes de existir. Para que o investimento e o esforço valham a pena, o ticket de entrada tem de ser alto para quem quiser disputar o mesmo espaço.
· Geração de resultados: outra questão a analisar são as perspectivas de retorno do investimento, tendo em conta o tempo necessário para que a tecnologia ou inovação seja adotada. Em outros termos, não basta estar de posse de uma ideia genial, se não for possível fazer com que ela gere resultados antes que os investidores quebrem. Sem isso, a inovação, por mais que seja disruptiva, é só charme.
Font: http://cio.com.br/opiniao/2018/03/18/o-que-queremos-inovacao-disruptiva-que-gere-retorno/